O movimento surgiu em meio aos
bombardeiros entre Israel e o Líbano, em 1982, quando pilotos da Força Aérea
Israelense decidiram não bombardear civis e não tomar parte em operações
militares fora de Israel.
De 1982 para cá, os refuseniks
cresceram e criaram uma rede internacional de solidariedade, que hoje em dia
conta com uma rede de financiamento para ajudar às famílias dos
"refuseniks" que, além de enviados a prisões militares, perdem o
direito ao soldo.
A primeira geração de
"refusenik" é fundadora do estado de Israel e tem dentre os seus mais
ilustres membros o escritor, falecido em novembro do ano passado, Peretz
Kidron. Kidron, de origem austríaca e militante de toda a vida da esquerda
sionista, era membro da Força Aérea e protagonizou o movimento de recusa de
tomar parte nos ataques que "cruzaram a linha vermelha", na linguagem
deles, contra as populações civis no Líbano.
Desde meados dos anos 1980, ele e os
seus companheiros de resistência criaram o movimento Yesh Gvul ("Há um
limite"), e inspiraram muitos outros militares a não ultrapassarem a linha
que é de direito israelense.
A segunda onda de
"refuseniks" surgiu, não por acaso, por ocasião da Segunda Intifada,
que irrompeu durante o governo de Ariel Sharon. Também em 2006, na operação que
resultou num ataque ao sul do Líbano, uma nova geração de refuseniks se
organizou e, agora, seis anos depois, novos refuseniks, mais jovens, manifestam
sua disposição de ir para a prisão militar, mas não combater e não tomar parte
nos combates além da linha verde.
Mais um jovem em prisão por rejeitar participar nos
últimos bombardeios contra Gaza
O jovem Natan Blanc, de 19 anos,
seguiu para a prisão neste domingo (18) porque se recusou a tomar parte neste
novo ataque a Gaza. "Como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral
de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar
entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012"', diz o jovem
em uma carta que denuncia a "onda de militarismo agressivo" em
Israel.
A carta de Natan Blanc foi publicada
pelo blog Blog The Leftern Wall do escritor e poeta israelense e estadunidense,
Moriel Rothman, que mora em Jerusalém e saiu há pouco da prisão militar por ser
um "refusenik".
Moriel tem 23 anos e já cumpriu sua
pena por ter se recusado a servir, em outubro deste ano. Os
"refuseniks" são os cidadãos israelenses que se recusam a ingressar
nas Forças de Defesa de Israel para atuar além da fronteira da linha verde, que
é a fronteira reconhecida pelas Nações Unidas como legitimamente pertencente ao
Estado de Israel, e que datam de 1967.
No blog de Moriel Rothman, está a
carta de Natan Blanc, 19 anos, que neste domingo (18), segue para a prisão,
porque se recusou a tomar parte neste ataque a Gaza.
Segue a carta de Natan:
"Eu comecei a pensar em recusar a
tomar parte no exército israelense durante a operação 'Chumbo Fundido' em 2008.
A onda de militarismo agressivo que varreu o país, então, as expressões de ódio
mútuo e o vácuo de conversas a respeito do caráter de nosso terror e da criação
de um efeito de dissuasão, sobretudo, impulsionaram minha recusa.
"Hoje, depois de anos cheios de
terror, sem um processo político [por meio de conversações de paz], e sem
tranquilidade em Gaza e em Sderot, está claro que o governo Netanyahu, assim
como o de seu antecessor, Olmert, não estavam interessados em encontrar uma
solução para a situação existente, mas, antes, em preservá-la.
"Do ponto de vista deles, não há
nada errado em iniciarmos a "Operação Chumbo Fundido 2" a cada três
ou quatro anos (e então a operação chumbo fundido 3, 4, 5 e 6): nós falaremos
em dissuasão, nós vamos matar algum terrorista, nós perderemos alguns civis em
ambos os lados, e nós prepararemos o terreno para uma nova geração cheia de
ódio de ambos os lados.
"Como representantes do povo, os
membros do gabinete não têm qualquer dever de apresentarem sua visão para o
futuro do país, e podem continuar com esse círculo sangrento, sem fim à vista.
Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de recusar a
participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar para o
Exército Israelense em 19 de novembro de 2012".
Natan
pode ser contatado neste email: nathanbl@walla.com
Tradução:
Katarina Peixoto
Fonte:
Diário Liberdade, Quinta, 22 Novembro 2012
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