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16 de fev. de 2011

A máscara do “progresso”.

 
Por Senadora Marinor Brito (PSOL)
 Uma reflexão sobre a construção de hidrelétricas na Amazônia e seus impactos e conflitos socioambientais

Por muito tempo, o Brasil foi um país que pensou no desenvolvimento - com a construção de usinas hidrelétricas, gasodutos, oleodutos, rodovias, aproveitamento turístico e a expansão agrícola – sem pensar nas conseqüências ao meio ambiente. E, apesar dos avanços, continua cometendo erros primários. Não devemos ser contra o progresso, e sim lembrar que ele deve vir sempre acompanhado de responsabilidade e respeito à natureza e ao ser humano. Caso contrário, os desdobramentos advindos desse processo desordenado podem resultar em um tiro no próprio pé.
Ao se destruir os recursos naturais, além de se provocar desastres ecológicos como enchentes (como as que vimos recentemente em vários estados), efeito estufa e extinção de animais, outras conseqüências, menos colocadas na mídia, porém não menos importantes também são devastadoras: acaba-se com o potencial turístico da região, prejudica-se as comunidades locais que vivem da agricultura de subsistência e, em alguns casos, desrespeita-se o direito dos povos indígenas à posse de suas terras.

Atualmente, a maior polêmica está concentrada na construção de complexos hidrelétricos na Amazônia, a maior riqueza natural do país. A construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira/ RO, e de Belo Monte, no Xingu/ PA irá gerar um grande impacto e desequilíbrio ambiental, como a devastação da floresta – não somente com a construção em si, mas também pelo grande número de habitantes que deve se estabelecer nesses locais e, conseqüentemente, abrir estradas, construir casas e infra-estrutura em geral - e a escassez de peixes nos afluentes dos rios, por afetar diretamente a população local, que sobrevive principalmente da pesca.

Além disso, o projeto hidrelétrico do Rio Madeira não considera a presença de povos indígenas isolados que habitam o local, apesar da ciência do governo sobre o caso. Além de terem suas terras devastadas, eles devem sofrer com as doenças trazidas pelos “brancos”, diante das quais estes povos possuem baixa imunidade e, no passado, provocaram inúmeras mortes.

Já o projeto de Belo Monte promete trazer cerca de 20 mil empregos para a região. Porém, existem hoje 19 mil pessoas desempregadas e mais 200 mil pessoas estão migrando para o Xingu, em busca de trabalho. Isto é, mais pessoas se concentrarão em uma região em situação de vulnerabilidade e não há uma perspectiva de incluir socialmente a população.

O Brasil tem um histórico de erros que foram cometidos em nome do “progresso”. É preciso acordar para alternativas de geração de energia sustentável, que são possíveis de serem implantadas. Avançamos com a criação do biodiesel, por que não avançar também quando se fala em energia elétrica? Divulga-se tanto que o país tem reduzido as iniqüidades sociais. Então, por que não ouvir as comunidades locais, ao invés de impor um projeto que afetará diretamente a vida destas pessoas? Devemos lembrar que colhemos o que plantamos e cuidar das nossas florestas é garantir um futuro melhor para nós mesmos e para as próximas gerações.

A Amazônia é uma das maiores riquezas do nosso país, admirada mundialmente. É nosso dever primar pela sua preservação e pela cultura e valores do seu povo, que tanto tem a nos ensinar. Continuarei lutando para dar voz aos povos indígenas, à população ribeirinha, aos camponeses, extrativistas e a toda população da Amazônia. Esse deve ser um compromisso de todos: governo, mídia e sociedade. Vamos juntos lutar por esta causa!

Senadora Marinor Brito
PSOL/ PA

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