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13 de jul. de 2011

Cúpula petista, a "esquerda" que a direita gosta – Por Milton Temer

Milton Temer
Começa a ficar evidente, através de fatos que se sucedem em velocidade, o que a traição de Lula ao programa e ao passado oposicionista do PT representou para a esquerda brasileira no seu conjunto. Palocci, Cabral, Nascimento, tudo em menos de seis meses, comprovam que os caminhos escolhidos para a despolitização da política, através do assistencialismo desmobilizador das camadas mais oprimidas, marchou par-e-passo com a guinada da combatividade para o pragmatismo bandido. Com a guinada da representação de classe à submissão à hegemonia das predadoras elites econômicas que sempre prometeu combater.
Insisto. Não identifico a cúpula petista, e os apaniguados no aparelho do poder, com a militância e com eleitores não militantes do Partido dos Trabalhadores. Mas responsabilizo as lideranças - tanto nas estruturas da legenda quanto nas instituições da sociedade civil organizada -, como responsáveis pela malfeitoria que hoje entrega à direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana a possibilidade de se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.
Dilma, criatura de Lula, posando ao lado de Cabral, na reinauguração de obra que, in loco, já havia sido inaugurada por Lula, é apenas uma forma de garantir a malfadada aliança com o desqualificado PMDB. Sérgio Cabral, algoz de bombeiros, e de profissionais da saúde e da educação, está enlameada pelas suas relações promíscuas com os empreiteiros à espreita das obras dos megaeventos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Com os maganos que controlam as burras do Tesouro, e de onde arrancam os recursos para distribuir gorgetas milionárias, financiadoras de campanhas dos políticos sem escrúpulos. Políticos que, lá na frente, com manobras de superfaturamento aprovadas, tudo lhes retribuirão, com juros e correção monetária. Posar na foto com Cabral é avalizar essa bandidagem.
Dilma, criatura de Lula, afirmando através de sua capataz Ideli Salvatti que o ministro banido, ora Senador e presidente do PR (partido da República, ou partido dos ratos?), terá participação ativa na escolha do seu sucessor, apenas comprova que a estrutura comprometida, herdada de Lula, se alterará na forma, sem ser modificada na estrutura. E, uma vez mais, abrirá espaço para a direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.
A militância histórica do PT não é responsável por isso. Mas, se continuar tentando convencer aos que nela depositam ainda alguma confiança de que fazem a política possível diante do conjuntura concreta, estará se comprometendo, em cumplicidade, no assassinato da esperança de transformação qualitativa da realidade brasileira. No assassinato das duas décadas de luta heróica contra a dependência externa e a opressão interna do grande capital que marcaram o crescimento qualitativo do partido.
É fundamental não esquecer, diante de exemplos vários da história. O que sobrar disso, para a história, será a imagem da infâmia e da traição de uma geração.
Milton Temer é jornalista

Um comentário:

  1. Uma pena, temos que lembrar o que FOI o PT, quantos militantes abandonaram a luta política, motivados por essas traições. Epitáfio sobre a cova petista: "Aqui jás um bastião da moralidade." O zumbí, que fugiu do cemitério, faz política faz vergonha, vende 20 anos de luta por poder e dinheiro.

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