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28 de jul. de 2011

Murdoch: A podridão da mídia inglesa e a regulamentação necessária aqui - Por Milton Temer

*Por Milton Temer
O podre veio à tona na velha Inglaterra, e daí muita coisa pode ser aproveitada, como exemplo a não reproduzir. Por conta dos escândalos gerados a partir da revelação de cumplicidade a empresa de Rupert Murdoch com autoridades políticas e policiais, na concretização de crimes graves contra vítimas de catástrofes, o líder do Labour Party, Eddie Mileband, pede o desmantelamento do império do magnata no País.
Na esteira de tal proposta, vale lembrar quem é a figura dantesca de Murdoch e o poder supranacionais que implantou através do seu império de mídia. Um poder sempre voltado à instalação de um clima internacional bélico, e de recuperação das práticas mais agressivas do grande capital imperialista, através de seus beleguins à testa de governos, dele dependentes, nos principais países capitalistas.
Ele está na origem da conspiração Bush-Chenney-Rumsfield a serviço dos interesses das corporações industrial-militar-petrolíferas que norteou a invasão do Iraque e do Afeganistão, em nome da defesa dos valores “democráticos ocidentais”. Valores que, sistematizados por Samuel Huttington, teórico que armou ideologicamente o fundamentalismo americano na busca de uma alternativa, foram base para a geração de uma “Guerra de Civilizações” – peça fundamental na substituição das necessidades de mercado para o complexo industrial-militar que , supostamente, haviam-se tornado fora da ordem, a partir da decomposição da União Soviética e o fim da Guerra Fria.
E nós, brasileiros, o que temos nós a ver com isso?
Temos muito. Porque há tempos, mais precisamente, depois que governos soberanos e independentes, no continente, se propuseram a enfrentar o que até então se impunha como novo tipo de ditadura – a ditadura imposta pelo controle,da vez mais concentrado em mãos do grande capital, dos meios de comunicação de massa; essa ditadura, estamos sendo descarada e permanentemente bombardeados. Bombardeados para a aceitação de um falacioso critério de “liberdade de informação”, condicionado à libertinagem que a apropriação e interpretação da notícia de acordo com os interesses e privilégios que insistem em manter intocado. Murdoch era o modelo. Não só pela insistência nessa tecla, como pela forma desavergonhada com que influenciava disputas de poder – sempre ao lado das correntes mais reacionárias e belicistas -, e dava cobertura aos atos de vandalismo agressivo que as potências imperialistas – EUA e países da OTAN, em destaque – implementaram principalmente no Iraque, no Afeganistão, sem esquecer o início, ao tempo de Clinton, Blair e a idiota “esquerda” europeia, na “guerra humanista” dos Bálcãs.
Aqui no Brasil, para além do apoio a tais atos; para além do apoio às coberturas deles feita, de acordo com o que emanava dos centros de informação dos estados-maiores das tropas de ocupação que as agências internacionais – Fox à frente – entregavam a todos os telejornais e à mídia impressa; uma outra bandeira local era assumida. A bandeira de denúncia do controle social da mídia sob concessão – canais de rádio e TV – como censura.
Aos pauteiros dos telejornais e das raríssimas mesas de debate político, o direito absoluto de só ouvir opiniões coincidentes com a linha editorial das empresas, e dos capatazes que as dirigem se sobrepunham à exigência do contraditório ( aqui é importante ressaltar que, ao contrário do que ocorria nas últimas décadas do século XX, as redações passaram a ser povoadas por chefes e analistas que não se envergonham da sua total adesão ao mais explícito neoliberalismo, com a consequente subordinação ao chamado “pensamento único”. Não raro, mais direitistas do que os próprios patrões).
Vozes dissidentes, na academia ou na sociedade civil organizada, essas que continuem no silêncio, ou nas alternativas redes sociais. Essa é a liberdade que essa canalha defende.
Com o episódio Murdoch, e seus desdobramentos previsíveis, volta o espaço para a discussão concreta da regulamentação – iniciado pelo então ministro Franklin Martins – e abandonado pela administração Dilma Rousseff (não consigo classificar como “governo”, no sentido republicano da expressão, algo que se move como direção de empresa privada). Com os desdobramentos da crise inglesa, e a despeito dos rapapés de Dilma aos festejos do jornal que a tratou como “terrorista”, com a mesma volúpia com que forjou o termo “ditabranda”, algo pode mudar. E esse algo vai depender muito, não só da pressão social dos segmentos ligados nesse tema, como dos parlamentares e dirigentes do Partido dos Trabalhadores.
Se eles cederem aí, como cederam nas concessões aos banqueiros e empreiteiros, só resta o empenho sobre a militância e eleitores que ainda apostam na tal e famigerada “disputa por dentro” para fazê-los ver que, por dentro, só encontrarão vísceras apodrecidas.
Fonte: PSOL 50

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