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13 de set. de 2011

Sobre a “Marcha Contra a Corrupção”

*Por Clayton de Souza Avelar
No último 7 de setembro ganhou destaque a “Marcha Contra a Corrupção”, com milhares de pessoas, a maioria jovens, na vastidão da Esplanada dos Ministérios.
Qualquer pessoa de bem não pensaria duas vezes em apoiar uma marcha contra a corrupção. O evento do dia 7 reflete um sentimento amplamente majoritário e legítimo da população brasileira.
No entanto, a Marcha ficou incompleta, a começar pelo lema. Ele deveria ser: “Marcha Contra a Corrupção, os Corruptos e os Corruptores”. O motivo é óbvio e sabido: não há corrupção sem corruptos, nem corruptos sem corruptores.
Como é bastante extensa a lista dos corruptos, seria muito difícil produzir uma faixa com o nome de todos(as). Isso poderia ser resolvido adotando-se um dos três critérios a seguir:
a) Escolher um corrupto símbolo
b) Considerar o montante roubado
c) Lembrar os casos mais recentes
Se considerarmos que o nome mais lembrado na Marcha foi o da deputada Jaqueline Roriz, prevaleceu a opção de destacar um caso mais recente.
Porém, se a opção fosse lembrar do montante surrupiado, certamente o alvo seria algum nome vinculado à privataria tucana (para recorrer ao termo cunhado por Elio Gáspari).
Resta ainda a opção por um nome de corrupto símbolo. Poderia ser algum famoso de São Paulo, do Pará, do Maranhão, do Distrito Federal, de Minas Gerais.
E quanto aos corruptores? Por acaso os escândalos que assolam o país não envolvem empreiteiras, bancos, mineradoras e outras tantas empresas? Para quem desejar uma relação mais específica, bastaria recorrer aos trabalhos da antiga CPMI do Banestado, estranhamente inconclusa.
Mesmo com essas lacunas a Marcha foi um evento positivo. Quando a maioria entender que política não é coisa de “político”, teremos grandes chances de mudar o país para melhor.
Todavia, a Marcha, além das lacunas, teve também seus erros. O maior deles foi a adesão ao autoritarismo e à intolerância. Refiro-me à absurda, injusta e inconstitucional proibição às bandeiras dos partidos políticos.
Pelo que se sabe, militantes de apenas dois partidos ousaram estampar suas bandeiras na Marcha: o PSOL e o PC do B. Ambos foram hostilizados.
Não é demais perguntar: hostilizar o PSOL acumula alguma coisa na luta contra a corrupção? Ou seria antes o contrário? Seguramente dois senhores e uma senhora têm todo motivo para hostilizar o PSOL: Joaquim Roriz, Jader Barbalho e Jaqueline Roriz.
Não fosse pelo PSOL, Joaquim Roriz poderia ser hoje governador do DF. Não fosse pelo PSOL, Jaqueline Roriz não teria sido julgada pela Comissão de Ética da Câmara. Não fosse pelo PSOL Jáder Barbalho estaria no Senado.
Ouvi dezenas de pessoas, aos gritos de “oportunista”, exigirem o recolhimento da pequena bandeira do PC do B. Eu até concordo com os manifestantes na alcunha imputada ao partido. No entanto, em minha concepção de democracia, até os oportunistas têm direito de empunhar suas bandeiras. Além do mais o PC do B deve ser preservado e estudado profundamente, por ser uma espécie única no mundo: um partido comunista neoliberal, que possui em seus quadros um deputado amado e idolatrado pelos latifundiários.
A proibição às bandeiras de partidos deve ter sido um alívio para o PSDB, o PMDB, o PT, o PR e o DEM. Seguramente, os correligionários dessas agremiações não se sentiriam muito à vontade numa marcha contra a corrupção.
Entre os que se opõe aos partidos há três tipos de pessoas: os bem intencionados, os mal intencionados e os equivocados.
Entre os bem intencionados estão os anarquistas. Desde a pré-história da democracia os anarquistas afirmam que todo poder é corruptível. Como os partidos almejam o poder, eles são, por extensão, corruptíveis. Embora condenem os partidos, não há registro de que os anarquistas desejem calar os mesmos.
(Respeitar a autonomia e independência dos movimentos sociais é uma boa política que todo partido deveria adotar. Respeitar as posições individuais de quem não deseja ser identificado com essa ou aquela sigla requer um consciente esforço de tolerância, até para exigir que a recíproca seja verdadeira)
A lista dos mal intencionados é ampla. Fascistas, nazistas, franquistas, salazaristas e integralistas não gostavam de partidos. No Brasil houve um tempo em que os partidos não podiam levar bandeiras às ruas: foi o Estado Novo, ditadura varguista inspirada em Mussolini. O regime de Kadafi, recentemente derrubado, não admitia partidos.
Há também os espertos, que têm suas preferências partidárias, geralmente tucanos e petistas, mas adotam a camuflagem apartidária para, eles sim, manipularem os movimentos. Fui informado, durante a Marcha, que um de seus impulsionadores declarou, em seu perfil no Facebook, ser admirador do FHC.
Entre os equivocados estão os que se deixam levar pela desinformação da mídia empresarial. Não é verdade que todos os “políticos” ou todos os partidos sejam iguais e não é verdade que a política seja uma atividade dos “políticos”. Quem pensa assim acaba contribuindo para que os mesmos de sempre continuem governando.
A corrupção é um grande mal no país, mas não é o único e nem o principal. À parte questões de ordem moral, subjacentes à corrupção, o grande problema do país é o Estado privatizado, submetido aos interesses de grupos minoritários como os banqueiros, multinacionais, latifundiários, mídia empresarial, os privatistas de toda ordem.
A política econômica está assentada no atendimento ao mercado, especialmente o financeiro.
A política agrária satisfaz o agronegócio, concentrador de renda, destruidor do meio ambiente e inútil para o abastecimento popular.
Os setores de saúde e educação, entre outros, espremidos pela insuficiência de recursos, não podem melhorar enquanto o país mantiver o exuberante superávit primário.
A origem da corrupção está no mercado, não na política.
*Clayton de Souza Avelar é socialista, esmeraldino e filiado ao PSOL
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Um comentário:

  1. Sinceramente, a política serve para melhorar a alto estima das nossas preguiçosas bundas gordas. Para começar, quem disse que a corrupção mais grave ocorre pelos políticos? A TV?! Vamos seguir em frente. Mas quando falamos do gerenciamento da atual sociedade, incluindo os bancos, corporações e os escravos alienados, pergunto será mesmo possível, no paradigma atual, o do lucro, não ser corrupto? Lucrar sobre os outros é algo válido, ou de fato o cheiro de trapaça sinaliza a carne podre? Voltando um pouco. Eu que participarei da grande manifestação do dia 15 (que talvez se torne um marco na história da humanidade), pergunto-lhes: basta protestar para os outros, exigindo soluções, para de fato termos alguma? Será que eles tem soluções, ou apenas dizem ter para manter o controle do rebanho???
    O assunto vai longe, mas eu já não estou muito a escrever textos... apenas poesias, quem quiser ler min ha primeira:
    http://quevenhaabaixo.blogspot.com/2011/09/sangue-da-vida.html
    E recomendo o documentário:
    http://www.youtube.com/watch?v=4Z9WVZddH9w

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