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2 de out. de 2011

Além dos lucros, alta rotatividade e questão de gênero motivam greve dos bancários

*Por Marcel Gomes
Não são apenas os altos lucros das instituições financeiras que estimulam os bancários a cruzarem os braços em busca de melhores salários.
A greve do setor, que entra em seu terceiro dia nesta quinta-feira (29), também tem origem na insatisfação dos trabalhadores com a rotatividade do emprego, sobretudo aquela relacionada à troca de funcionários de mais altos salários por jovens com menor remuneração.
Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) ajuda a dimensionar esse fenômeno.
No primeiro trimestre de 2011, os bancos desligaram de seus quadros 8.947 trabalhadores, que possuíam um salário médio de R$ 4.086,32, e contrataram 15.798 novos empregados, com remuneração média de R$ 2.330,25.
Apesar do saldo positivo de 6.851 vagas geradas, a diferença salarial entre admitidos e desligados foi de 42,97%, acima do verificado no ano anterior, de 37,57%.
De acordo com o técnico do Dieese Miguel Huertas Neto, um dos responsáveis pela pesquisa divulgada em julho, a rotatividade explica porque, nos últimos seis anos, os bancários empregados acumularam reajuste real de pelo menos 12,2%, mas a média salarial do setor subiu apenas 3,6% – de R$ 4.278, em 2004, para R$ 4.435, em 2010, em valores já corrigidos pela inflação.
Com remuneração menor, a juventude é a nova cara do trabalhador bancário. Entre os 15.798 funcionários admitidos nos primeiros três meses deste ano, 72,84% tinham até 29 anos. Já entre os trabalhadores com mais de 40 anos, houve 2.002 mais desligamentos do que admissões.
“O principal motivo de desligamento continua sendo ‘a pedido’, com quase a metade dos desligamentos. Em relação aos bancários que foram desligados, observa-se que, além de a maioria ter pedido demissão, eram pessoas com maior escolaridade, principalmente aquelas com ensino superior completo”, explica Huertas.

Questão de gênero
Não é apenas a troca de funcionários de faixa etária elevada por outros, mais jovens, que impõe a estagnação do salário médio pago aos bancários.
Os dados da pesquisa do Dieese revelam que isso também ocorre porque as instituições financeiras têm contratado menos homens e mais mulheres, para quem costumam pagar menos.
Segundo o estudo, as mulheres desligadas saíram do banco com rendimento médio de R$ 3.410,41, valor 27,41% inferior àquele auferido pelos homens (R$ 4.697,90).
Na contratação, a mão-de-obra feminina começa a trabalhar ganhando, em média, R$ 2.004,21, enquanto os admitidos do sexo masculino receberam o equivalente a R$ 2.639,32 – 24,06% a mais.
O Dieese aponta que o degrau salarial que separa homens e mulheres permaneceu do mesmo tamanho quando comparado aos 24,10% registrados em 2010.
Braços cruzados
Em assembléia realizada no início da noite desta quarta-feira (28), os bancários decidiram manter a greve até pelo menos a próxima segunda-feira, quando ocorrerá nova assembléia.
De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), a paralisação cresceu em seu segundo dia, com 2.057 novas agências fechadas.
No total, há 6.248 unidades paradas em todos os Estados brasileiros, exceto Roraima, e no Distrito Federal.
A Contraf disse, porém, que os bancários de Roraima aprovaram, em assembléia realizada na terça-feira (27), o início da greve para o dia 3 de outubro.
“A força da greve é proporcional à insatisfação dos bancários, que cresce a cada dia sem manifestação por parte dos bancos”, diz Carlos Cordeiro, presidente da confederação.
Os trabalhadores do setor entraram em greve após a quinta rodada de negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), realizada na última sexta-feira (23), em São Paulo.
Eles recusaram a proposta de reajuste salarial de 8% sobre os salários e reivindicam 12,8%, incluindo 5% de aumento real.
Lutam ainda, entre outros pontos, pelo fim da rotatividade, melhoria do atendimento aos clientes, contra “metas abusivas” e o “assédio moral”, mais segurança, igualdade de oportunidades e maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
Os seis maiores bancos que operam no Brasil (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Caixa, Santander e HSBC) lucraram R$ 25,9 bilhões no primeiro semestre de 2011, alta de 20,11% sobre o registrado no mesmo período de 2010.
Marcel Gomes é correspondente da Carta Maior de São Paulo.
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