Abdias Nascimento foi um ativista de destaque do movimento negro |
Denilson Lima Santos[1]
Constantemente nos deparamos com jornais, telenovelas ou filmes em que os diálogos são acentuadamente racistas. Quando nos levantamos e apresentamos esses textos como discurso de uma sociedade que maquia a verdade e que insiste em embranquecer-se, alguns dizem “isso é fundamentalismo”. Ou então expressam: “Nesses tempos de fundamentalismo é perigoso tomar essas atitudes”.
Quero evidenciar que “essas atitudes” são as nossas que denunciamos, por exemplo, quando escutamos que as cotas são “outro tipo de racismo”; ou quando uma personagem branca agride outra personagem, negra, e para completar a cena, esta “apanha” de joelhos. Nesse espaço de reflexão, nos perguntamos: como é ser negro 24 horas por dia? Sobretudo quando nos localizamos em Feira de Santana, por exemplo.
Não é segredo, todos sabem que o negro no Brasil tem uma história de violência humana, simbólica e até psicológica. Basta observar as cadeias e a cor da pele de quem está preso. Ou então que visite um instituto médico legal e observe a cor de quem é assassinado nas ruas e, propositalmente, é descrito nos boletins de ocorrências que tal assassinato decorreu de “um confronto com a polícia”. Quando caminhamos em ruas como a Conselheiro Franco ou Marechal e vemos camelôs sendo escorraçados pelo “rapa”, qual é a cor destes homens e mulheres que buscam no comércio autônomo seu sustento?
Ser negro é sobreviver, lutar e ter a certeza que cada batalha vencida faz parte de uma guerra que não acabou. Ser negro é desafiar um sistema injusto que exclui da possibilidade de participação do poder. Mas como já foi vaticinado pelo Ilê Aiê: “Se o poder é bom, eu também quero”.
É o poder que queremos também, além de erradicar o racismo para que não ocorram mais mortes de estudantes negros nas ruas; para que não ocorram estudantes apanhando na escola por causa da cor de sua pele. Para que “capitães do mato” não tomem a mercadoria de quem vende nas ruas para sustentar a família.
De fato, ser negro na cidade de Feira de Santana é superar discriminações diárias legitimadas pelo governo municipal, por exemplo, excluindo os blocos afros do circuito principal da Micareta. Além disso, as ações afirmativas para o povo negro são inexistentes nesta cidade, por isso reivindicamos políticas públicas para o nosso povo.
Assim, os negros unidos com outros movimentos populares e sociais podem lutar e assumir o poder municipal. Isto é possível porque pensamos que o poder é do povo e, dessa forma, negros, índios, ciganos, homossexuais e outros grupos que são discriminados, também têm o direito de participação efetiva na sociedade feirense.
[1]Negro, Ogan do Ilê Axé Odé Ijô, em Feira de Santana e Professor de Língua Portuguesa, Literatura e Cultura Afro-brasileira, além de integrante do PSOL.
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