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12 de jan. de 2012

A Colcha de Retalhos do Novo Ano - Por Marcos Monteiro

Por Marcos Monteiro*

Com as melhores tiras conhecidas e com as desconhecidas que virão, somos chamados a construir o novo ano. Porque um ano é colcha de retalhos, porção grande de pano feita de pequenas porções, costuradas em muitas tradições na festa barulhenta do mutirão. Um ano é tempo suficiente costurado de tempos insuficientes, tempo demais feito de tempos de menos, retalhos de tempo cerzidos e unidos pelos artesãos e artesãs que somos nós.


A multiplicidade de texturas, cores, motivos, produzem beleza em convergência e divergência, harmonia e paradoxo, porque a vida só pode ser vivida como colcha de retalhos.

Começo a pensar a minha colcha de retalhos, o meu 2012, e minha imaginação desenhou uma peça esplendorosa, com todas as virtudes clássicas, justiça, temperança, prudência e coragem, e todas as virtudes teologais, fé, amor e esperança, luminosos retalhos para um luminoso tempo novo.

Essa grande coberta pode ser teto de uma tenda, debaixo do qual dançamos todos uma ritmada ciranda. Construindo, reconstruindo e desconstruindo o conhecimento, de mãos dadas com Morin, redistribuindo o poder, talvez ao ritmo de uma cantiga de Foucault, celebrando a alteridade com Lévinas, dançando e cantando as grandes canções dos grandes momentos da história.

Entretanto, Nietzsche, Marx, Freud e Sartre, começaram a puxar um samba dentro da ciranda e fomos obrigados a repensar idéias, movimentos, estruturas e, desfazendo a roda da ilusão, começar um novo cordão de esperança, evoluindo pelos caminhos que ninguém sabe onde começam nem onde terminam.

Com os retalhos das crises e das incertezas atuais, minha esperança foi obrigada a se encolher, e a tentar caminhar com mais cuidado e mais objetividade. Pensei em Voltaire que, não acreditando que vivamos no melhor dos mundos possíveis, ou seja, desconfiando de Leibniz, faz Cândido responder ao filósofo Pangloss que ”precisamos cuidar do nosso jardim”.

Mas pensei especialmente em Paulo Freire e suas utopias comedidas, especialmente em seu livro “Pedagogia da Esperança”, em que uma pessoa do povo diz que espera por um mundo “menos feio, menos injusto, menos violento”.

Talvez só tenhamos disponíveis esses retalhos, e isso nos basta por enquanto. Enquanto o mundo da igualdade, da fraternidade e da liberdade não vem, podemos nos unir para construir um mundo menos desigual, menos excludente e menos opressor.

Trocamos assim os retalhos do “mais” pelos retalhos do “menos”. Diminuir o retalho da esperança talvez seja o único modo de construir a colcha e de organizar o mutirão. A única maneira de continuar lutando e esperando, esperando e lutando.

Feira de Santana, janeiro de 2011.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil

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