Neste
mês de junho de 2015, completamos dois anos das manifestações conhecidas como
“Jornadas de Junho”. Esse intenso momento de luta social no ano de 2013, quando
se realizava também a Copa das Confederações no Brasil, teve seu estopim em São
Paulo, durante manifestações por melhorias na mobilidade urbana, pelo “passe
livre” e contra o aumento na tarifa do transporte coletivo.
Na
oportunidade o governo do Estado de São Paulo reprimiu fortemente os
manifestantes, em sua maioria jovens, o que acabou por estimular um conjunto de
outras manifestações e lutas por todo o país. Foram duros embates que não
encontraram no governo Federal, estaduais e municipais nenhuma real acolhida,
vide o aparato de repressão policial montado para conter os manifestantes.
Passados
dois anos, junho de 2013 já é um marco na retomada das lutas da maioria da
população por mais direitos, mas algumas importantes questões levantadas na
oportunidade ainda precisam de respostas.
De
lá para cá, como já aconteceu em períodos anteriores, uma enxurrada de
denúncias e casos de corrupção praticados por partidos, empresas públicas e privadas,
que afetam diretamente a vida da maioria da população e mostram a fragilidade
do sistema político brasileiro, só reforçaram a repulsa das pessoas a partidos e
outras organizações políticas, bem como da participação política em geral. Na
verdade, está em questão principalmente o modo tradicional de fazer política.
É
nesse último ponto que se encontra um dos desafios. Em primeiro lugar, pela
necessidade de uma nova forma de fazer política que tenha na maioria da população
um sujeito ativo nas decisões dos rumos da sociedade. Em segundo, como
enfrentar a direita que vem se organizando, muitas vezes através do discurso antipartidário
conservador já visível nas próprias mobilizações de 2013, e hoje tem porta-vozes
cuja proposta explícita é uma política de retirada de direitos
conquistados historicamente pela classe trabalhadora e movimentos sociais em
sua diversidade.
Soma-se
ainda um conjunto de outras demandas que apareceram naquele contexto e que
também não foram resolvidas: como reivindicações por mais saúde e educação
pública, a melhoria na mobilidade urbana e garantia do direito à cidade, dentre
outras que visavam a melhoria nas condições de vida nos centros urbanos.
Até
por não serem recentes, pois estão colocadas desde antes da chamada “redemocratização”
do país na década de 1980, já é evidente que as demandas apontadas em Junho de
2013 só terão uma resolução que contemple a maioria da população com o engajamento
radical dessa maioria social porque o atual quadro da política institucional se
mostra incapaz de dialogar verdadeiramente com os anseios de transformação
social.
Desde
então as lutas populares, como expresso no aumento das greves, só aumentaram,
mesmo com todo o cenário de desgaste da política como já assinalado –
Demonstrando um avanço na resistência popular frente ao descaso com a garantia
de direitos seja nos governos protagonizados pelo PT e aliados ou pela oposição
conservadora do PSDB e aliados. Ao contrário, estes têm priorizado o pagamento
fiel dos juros da chamada “dívida pública”, que em 2014 abocanhou 45,11% do Orçamento
da União, ao passo que implementam um “ajuste fiscal” que retira direitos e reduz
investimentos em áreas sociais. Tudo isso no quadro de uma ofensiva de
precarização do trabalho, marcado pela ampliação da terceirização e
desregulamentação.
Nesse
cenário, as comunidades periféricas lutam por melhores condições de vida e
contra o racismo institucional. As comunidades tradicionais, especialmente quilombolas
e indígenas lutam por ter seus direitos e territórios reconhecidos. Movimentos
reivindicam a efetiva igualdade de gênero, o respeito à livre orientação sexual
e garantia de um Estado laico. Infelizmente, a principal resposta prática dada
pelo Estado brasileiro às lutas e enfrentamentos diários é o fortalecimento da
repressão, cuja expressão mais óbvia é uma política de segurança pública que
resulta no extermínio cotidiano dos jovens negros nas periferias. Ainda assim a
resistência popular cresce e, ao contrário do que propagandeia a grande mídia e
do que quer a direita tradicional – e os partidos populares que aderiram à
ordem como o PT –, há em curso uma reinvenção das formas de participação e de
fazer política de toda uma geração de brasileiras e brasileiros.
Em
parte, foi um retrato disso tudo o que se viu nas ruas naqueles rápidos dias de
junho. Certamente as Jornadas de Junho não foram um evento isolado no tempo e
espaço: são, ao seu modo, a continuidade da resistência histórica do povo
brasileiro aos séculos de domínio de uma minoria privilegiada e o esgotamento
de um modelo político que deixou de lado a mobilização popular em função da
conciliação com os interesses dessa mesma minoria. Sem dúvida, da mesma forma
que Junho de 2013 foi antecedido por uma lenta retomada de lutas diárias, o seu
principal legado continua sendo esse conjunto de lutas que se seguiram ainda
mais fortes e que continuam nos chamando às ruas.
Junho
não acabou!
PSOL
de Feira de Santana
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