Páginas

30 de jun. de 2015

JUNHO DE 2013 NÃO ACABOU!

Neste mês de junho de 2015, completamos dois anos das manifestações conhecidas como “Jornadas de Junho”. Esse intenso momento de luta social no ano de 2013, quando se realizava também a Copa das Confederações no Brasil, teve seu estopim em São Paulo, durante manifestações por melhorias na mobilidade urbana, pelo “passe livre” e contra o aumento na tarifa do transporte coletivo.

Na oportunidade o governo do Estado de São Paulo reprimiu fortemente os manifestantes, em sua maioria jovens, o que acabou por estimular um conjunto de outras manifestações e lutas por todo o país. Foram duros embates que não encontraram no governo Federal, estaduais e municipais nenhuma real acolhida, vide o aparato de repressão policial montado para conter os manifestantes.

Passados dois anos, junho de 2013 já é um marco na retomada das lutas da maioria da população por mais direitos, mas algumas importantes questões levantadas na oportunidade ainda precisam de respostas.

De lá para cá, como já aconteceu em períodos anteriores, uma enxurrada de denúncias e casos de corrupção praticados por partidos, empresas públicas e privadas, que afetam diretamente a vida da maioria da população e mostram a fragilidade do sistema político brasileiro, só reforçaram a repulsa das pessoas a partidos e outras organizações políticas, bem como da participação política em geral. Na verdade, está em questão principalmente o modo tradicional de fazer política.

É nesse último ponto que se encontra um dos desafios. Em primeiro lugar, pela necessidade de uma nova forma de fazer política que tenha na maioria da população um sujeito ativo nas decisões dos rumos da sociedade. Em segundo, como enfrentar a direita que vem se organizando, muitas vezes através do discurso antipartidário conservador já visível nas próprias mobilizações de 2013, e hoje tem porta-vozes cuja proposta explícita é uma política de retirada de direitos conquistados historicamente pela classe trabalhadora e movimentos sociais em sua diversidade.

Soma-se ainda um conjunto de outras demandas que apareceram naquele contexto e que também não foram resolvidas: como reivindicações por mais saúde e educação pública, a melhoria na mobilidade urbana e garantia do direito à cidade, dentre outras que visavam a melhoria nas condições de vida nos centros urbanos.

Até por não serem recentes, pois estão colocadas desde antes da chamada “redemocratização” do país na década de 1980, já é evidente que as demandas apontadas em Junho de 2013 só terão uma resolução que contemple a maioria da população com o engajamento radical dessa maioria social porque o atual quadro da política institucional se mostra incapaz de dialogar verdadeiramente com os anseios de transformação social.

Desde então as lutas populares, como expresso no aumento das greves, só aumentaram, mesmo com todo o cenário de desgaste da política como já assinalado – Demonstrando um avanço na resistência popular frente ao descaso com a garantia de direitos seja nos governos protagonizados pelo PT e aliados ou pela oposição conservadora do PSDB e aliados. Ao contrário, estes têm priorizado o pagamento fiel dos juros da chamada “dívida pública”, que em 2014 abocanhou 45,11% do Orçamento da União, ao passo que implementam um “ajuste fiscal” que retira direitos e reduz investimentos em áreas sociais. Tudo isso no quadro de uma ofensiva de precarização do trabalho, marcado pela ampliação da terceirização e desregulamentação.

Nesse cenário, as comunidades periféricas lutam por melhores condições de vida e contra o racismo institucional. As comunidades tradicionais, especialmente quilombolas e indígenas lutam por ter seus direitos e territórios reconhecidos. Movimentos reivindicam a efetiva igualdade de gênero, o respeito à livre orientação sexual e garantia de um Estado laico. Infelizmente, a principal resposta prática dada pelo Estado brasileiro às lutas e enfrentamentos diários é o fortalecimento da repressão, cuja expressão mais óbvia é uma política de segurança pública que resulta no extermínio cotidiano dos jovens negros nas periferias. Ainda assim a resistência popular cresce e, ao contrário do que propagandeia a grande mídia e do que quer a direita tradicional – e os partidos populares que aderiram à ordem como o PT –, há em curso uma reinvenção das formas de participação e de fazer política de toda uma geração de brasileiras e brasileiros.

Em parte, foi um retrato disso tudo o que se viu nas ruas naqueles rápidos dias de junho. Certamente as Jornadas de Junho não foram um evento isolado no tempo e espaço: são, ao seu modo, a continuidade da resistência histórica do povo brasileiro aos séculos de domínio de uma minoria privilegiada e o esgotamento de um modelo político que deixou de lado a mobilização popular em função da conciliação com os interesses dessa mesma minoria. Sem dúvida, da mesma forma que Junho de 2013 foi antecedido por uma lenta retomada de lutas diárias, o seu principal legado continua sendo esse conjunto de lutas que se seguiram ainda mais fortes e que continuam nos chamando às ruas.

Junho não acabou!

PSOL de Feira de Santana

Nenhum comentário:

Postar um comentário