Até onde vejo, o anunciado
início das obras do Bus Rapid Transit (BRT) não passa de um blefe, ou seja,
desde a última sexta-feira o governo tem construído um “espetáculo” para
encenar a vitória sobre a resistência à imposição de seu projeto. Para tanto, mobilizou
a mídia local e outros agentes do Estado para criar uma ideia de “fato
consumado”, bem como usou novamente o dinheiro público para tentar convencer
por meio de propaganda a população a apoiar o tal projeto. Seguindo a cartilha
da disputa pelo lugar de “pai da criança”, o governador da Bahia e o Ministro
das Cidades também participam da peça. Pouco importa se a obra realmente atende
às necessidades da maioria da população ou se cumpre o mínimo previsto na lei
acerca do planejamento urbano: o importante é aparecer na foto!
O governo municipal aposta
que esse “faz de conta” seja também um “abracadabra” que acabe com a
resistência à imposição do BRT, como se cortar um laço de inauguração e fazer
uns buracos em um terreno desse um fim mágico às críticas organizadas e à
rejeição difusa ao projeto. A tática é velha, assim como o seu momento:
contando com a desmobilização, José Ronaldo tem um longo histórico de uso de
períodos festivos e feriados para impor aumentos de tarifas de transporte e
outras medidas impopulares. Porém, por mais que queira, nem mesmo a dita
estação de integração da Pampalona ficará pronta no primeiro dia de
“construção” – que, aliás, a população da área espera desde a implantação do
Sistema Integrado de Transporte (SIT), em 2005. No desespero para “mostrar
serviço”, o prefeito, que não é estúpido ao ponto de acreditar na própria
farsa, escolheu um ponto inconcluso do projeto do falido SIT, previsto dez anos
atrás, para dizer que é o “início do BRT”. Afinal, ele sabe muito bem que a contestação
social e legal ao projeto do BRT tem fundamentos ambientais e urbanísticos
sérios. Não à toa, não teve coragem de encaminhar nada que seja verdadeiramente
ligado ao BRT.
Além da óbvia falta de
participação popular, basta lembrar que a ausência de um diagnóstico profundo
da realidade feirense, que seria parte de um Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano (PDDU) atualizado, conforme previsto no Estatuto da Cidade
(10.257/2001), torna o projeto do BRT um grande risco de que mais de R$ 90
milhões de dinheiro público sejam usados em uma obra que se revele rapidamente
equivocada por falta de estudo das necessidades do município no médio e longo
prazo. O próprio diretor técnico da Prisma, empresa que elaborou o projeto,
revelou em entrevista a um jornal local que o trajeto das vias segregadas do
BRT (fundamentalmente a Av. Getúlio Vargas e Av. João Durval) foi definido
antes de estudo detalhado. Situação agravada porque o projeto funcional e
operacional do Sistema BRT apresenta apenas uma pesquisa de “embarque
desembarque por ponto” nas avenidas previamente definidas para dar lugar ao
BRT. Dessa forma, não foi realizada qualquer análise séria de origem-destino de
passageiros dentro do SIT no conjunto do município ou do fluxo entre os
usuários das diferentes formas de mobilidade (motorizadas e não motorizadas,
coletivas e individuais).
É evidente que a jogada do
prefeito conta também com o silêncio de instituições públicas que se envolveram
na questão até aqui, ao ponto de afirmar que faz tudo com seu “total apoio”.
Seja qual for a sua posição, inclusive por uma obrigação de transparência,
Ministério Público Estadual, Defensoria Pública e o Judiciário precisam se
colocar claramente. Ao contrário do discurso oficial do governo municipal,
ainda há “um mundo” de representações, ofícios e ações judiciais que carecem de
resposta. Além disso, a mobilização popular continua na rua contra um projeto
de BRT que só reforça os problemas do sistema de transporte atual e implica na
destruição de pelo menos 165 árvores da Av. Getúlio Vargas, dentre outros
problemas. Assim, o anunciado “início do BRT” é apenas uma piada, de mau gosto
é bem verdade. É risível, mas sem graça. Esquece o prefeito que, como ensina a
sabedoria popular, o melhor riso é o último.
Jhonatas
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